A
história do cego do Bartimeu é umas das mais conhecidas no meio evangélico.
Algumas pessoas usam essa história para contradizer a bíblia, por exemplo:
Mateus fala de dois cegos e não apenas de um (Mt 20.30) e Lucas fala que Jesus
estava entrando em Jericó (Lc 18.35-43) e não saindo de Jericó como nos informa
Marcos (Mc 10.46). Como entender essas aparentes contradições? Primeiro, nem
Marcos, nem Lucas afirmam que havia apenas um cego. Segundo, havia duas cidades
de Jericó.
Sua
condição antes de Cristo
Alguns
pontos precisa aqui destacar sobre esse homem. Primeiro, Bartimeu vivia numa
cidade condenada (Mc 10.46). Jericó foi a maior fortaleza derrubada por Josué e
seu exército na conquista da terra prometida. Josué fez o povo jurar e dizer:
“Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade
de Jericó; com a perda do seu primogênito lhe porá os fundamentos e, à custa do
mais novo, as portas” (Js 6.26). Dessa forma, isso nos ensina que o homem sem
Cristo está debaixo de condenação, ele é por natureza filho da ira.
Segundo,
Bartimeu era cego e mendigo (Mc 10.46). Faltava-lhe luz nos olhos e dinheiro no
bolso. Ele estava entregue às trevas e à miséria. Vivia de esmola à beira da
estrada, dependendo totalmente da benevolência dos outros. Um cego não sabe
para aonde vai, um mendigo não tem aonde ir. É importante observar que não há
nenhuma cura de cego no Antigo Testamento; os judeus acreditavam que tal
milagre era um sinal de que a era messiânica havia chegado (Is 29.18; 35.5).
Terceiro,
Bartimeu não tinha nome (Mc 10.46). Bartimeu não é nome próprio, significa
apenas filho de Timeu. Além disso, não tinha saúde, nem dinheiro, nem valor
próprio. Certamente carregava não apenas sua capa, mas também seus traumas e
suas feridas abertas.
Quarto,
Bartimeu estava à margem do caminho (Mc 10.46). A multidão ia para a festa da
Páscoa, mas ele não podia. A multidão celebra e cantava, ele só podia clamar
por misericórdia. Ele vivia à margem da vida, da paz, da felicidade.
Sua
decisão por Cristo
Bartimeu
buscou Jesus na hora certa (Mc 10,47). Esta foi a última vez que Jesus passou
por Jericó, a última vez que Jesus foi a Jerusalém. Foi a última oportunidade
dele. Não há nada mais perigoso do que perder uma oportunidade. As
oportunidades vêm e vão. Se não os pegarmos, elas irão embora para sempre.
Bartimeu com sua cegueira enxergou mais que os sacerdotes, escribas e fariseus.
Estes tinham olhos, mas não tinham discernimento. Bartimeu estava cego, mas
podia ver com os olhos de sua alma.
Ele
buscou a Jesus com perseverança (Mc 10.48). A multidão tentou o calar, mas ele
clamava ainda mais alto: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. A multidão foi
obstáculo para Zaqueu ver a Jesus e estava sendo obstáculo para Bartimeu falar
a Jesus. Nem sempre a voz do povo é a voz de Deus, e, geralmente, não é.
Aqueles que tentam silenciar a voz do mendigo faziam-no pensando que Jesus
estava ocupado demais para preocupar-se em dar atenção a um indigente.
Buscou
a Jesus com humildade (Mc 10.47,48). Bartimeu sabia que não merecia favor
algum, e apela apenas para a misericórdia de Deus. Ele não pede justiça, mas
misericórdia. Ele não reivindica direitos, mas pede compaixão.
Buscou
a Jesus com desprendimento (Mc 10.50). Logo que Jesus mandou chamá-lo, ele
lançou de si a capa e num salto foi ter com Jesus. Há muitos que escutam o
chamado de Jesus, mas dizem: “depois que terminar isso ou aquilo”. Bartimeu
demonstrou pressa. Duas coisas é importante destacar:
Primeiro
lugar, Bartimeu desfez-se da única coisa preciosa que possuía. Sua capa era sua
roupa, sua proteção, sua cama. Segundo, Bartimeu levantou-se de um salto para
ir a Jesus. Os cegos não pulam, elas apalpam. Ele transcendeu o pensamento dos
cegos.
Foi
a Jesus com objetividade (Mc 10.51). Quando Bartimeu chegou à presença de
Jesus, ele lhe fez uma pergunta pessoal: “Que queres que eu te faça?”. Ele
podia pedir uma esmola, uma ajuda, mas ele foi direto ao ponto principal:
“Mestre, que eu torne a ver”.
Sua
nova vida em Cristo
Bartimeu
foi salvo por Cristo (Mc 10.52). Aquela era uma caminhada decisiva para Jesus.
Ele tinha pressa e determinação. O clamor de um mendigo o fez parar. Nesse
mundo onde tudo se move, o Filho de Davi pára para ouvir o seu clamor. Ele pára
para atender-lhe a sua voz.
Ele
foi curado por Cristo (Mc 10.52). Jesus não apenas perdoa pecados e salva a
alma, mas também cura e redime o corpo. Bartimeu teve seus olhos abertos. Ele
saiu de uma cegueira completa para uma visão completa. Num momento, cegueira
total. No seguinte, visão intacta. A cura foi total, imediata e definitiva.
Bartimeu
foi guiado por Cristo (Mc 10.52). Ele “seguia a Jesus por onde fosse”,
demonstrou gratidão e provas de sua conversão. Ele não queria apenas a bênção,
mas, sobretudo, o abençoador.
Conclusão
Portanto,
esse texto tem algumas lições a nos ensinar. Primeiro, devemos aproveitar as
oportunidades que Deus coloca diante de nós. Segundo, devemos perseverar diante
das dificuldades da vida. Terceiro, Cristo espera uma renúncia daqueles que
almejam segui-lo.
Sidney Muniz
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