Em Atos 4.23-31 temos uma oração da igreja primitiva
diante de uma perseguição. A perseguição começou pelo o fato de os discípulos
de Cristo ensinarem e anunciarem a ressurreição dentre os mortos (At 4.2).
Ficaram ressentidos os sacerdotes, o capitão do Templo e os Saduceus os
prenderam por ensinarem em nome de Cristo. O texto descreve que muitos dos que
ouviram a palavra aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil (At 4.4).
Os discípulos
foram interrogados com que poder ou em nome de quem eles operava milagres – essa
contestação era por causa da cura de um homem coxo que Pedro e João curaram no
templo (At 3,1-10). Pedro cheio do Espírito Santo respondeu que aquilo tudo
fora em nome de Cristo ao qual eles tinham crucificado. Autoridades
responderam: “Chamando-os,
ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de
Jesus” (At4:18).
Diante disso, eles procuraram os irmãos e lhes contaram
quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos, e em seguida levantaram a voz a Deus em oração.
Queremos analisar
e aplicar as “divisões poderosa dessa oração” feita pela igreja primitiva e os
benefícios que ela tem para a vida cristã.
Estrutura da oração
Engrandecendo o nome do Senhor
Ouvindo isto,
unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste
o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há (At 4.24).
Começaram sua
oração reconhecendo a soberania de Deus, crendo que Ele é o criador do céu, da terra,
do mar e tudo o que neles há. Quando um dos seus discípulos pediu: “Senhor
ensina-nos a orar” (Lc 11.1), Jesus primeiramente ensinou: “Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Jesus nos mostra nesse modelo de oração,
pedindo primeiro que Deus seja glorificado. Os homens de Deus na Antiga Aliança
oravam assim, podemos destacar três exemplos:
Josafá
Pôs-se Josafá
em pé, na congregação de Judá e de Jerusalém, na Casa do Senhor, diante do
pátio novo, e disse: Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura,
não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos dos povos?
Na tua mão, está a força e o pode e não há quem te possa resistir (2Cr 20.5,6).
Neemias
E disse: ah!
Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a
misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!
Davi
Eu te amo, ó
Senhor, força minha. O Senhor é a minha rocha, a minha
cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refúgio; o meu
escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte (Sl 18.1,2).
Portanto, esses
homens começavam primeiramente suas orações exaltando a Deus, porque faríamos
diferente? Não comece pedindo por você, mas engrandecendo Aquele que é digno de
toda honra e glória.
Citaram as Escrituras
Que disseste
por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por
que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? (At 4.25).
A igreja
primitiva fundamentou sua oração no texto de Salmos 2. Sobre isso, John Piper
diz: “Observe que a igreja primitiva orava Escrituras. Por exemplo,
a oração de Atos 4:24-31 cita Salmos 2. Além disso, orações do Antigo Testamento
com a oração de Esdras em Neemias 9:6-37, são repetições da história bíblica e
de textos bíblicos”[1].
Diante disso, podemos perceber que esse costume vem do Antiga Aliança. Segundo
Joel Beeke, os Puritanos usavam essa prática em suas orações, meditavam em um
texto Bíblico e depois transformavam isso em orações a Deus[2].
Logo, Orar a Palavra significa ler (ou recitar) Escritura com um espírito de
oração, fazendo do significado dos versos a nossa oração e a inspiração dos
nossos pensamentos como disse John Piper.
Intercederam pelas autoridades
Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel (At 4.26,27).
Podemos
perceber que nessa parte da oração, os discípulos aprenderam muito bem e colocaram
em prática o orar pelos os inimigos da obra de Deus: “Eu, porém, vos digo: amai
os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44). Diante da
perseguição que aquela igreja enfrentava, ela entendia que a oração era o meio de
salvação daquela dificuldade e reconhecimento de dependência de Deus. O
apóstolo Paulo escrevendo para Timóteo sobre orar pelas autoridades: “Antes de
tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões,
ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de
todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila
e mansa, com toda piedade e respeito” (2Tm 2.1,2).
Nesse sentido, devemos
apresentar a Deus em nossas orações os nossos governantes. Pedindo a Deus
sabedoria, bondade no coração dos que governam e pelos os servos de Deus que
estão na política para que não se corrompam, a fim de não envergonhar o
evangelho.
Deus governa todas as coisas
Para fazerem
tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram (At 4.28).
Apesar de a
igreja primitiva enfrentar perseguição por causa do Evangelho, eles
apresentaram em oração as autoridades a Deus, entretanto, estavam conscientes
que tudo estava acontecendo segundo a vontade de Deus. Essa petição é “uma
afirmação clara de que nada, nem mesmo a morte injusta do Filho de Deus,
acontece à parte da vontade e do controle soberanos de Deus. A certeza do plano
de Deus para o mundo é estabelecida pelo seu soberano "propósito" e
assegurado pela sua "mão" todo-poderosa”[3].
Essa parte da
oração revela a confiança que aquela igreja tinha na providência de Deus. As
Escrituras descreve que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm
8.28). Em nossas orações, devemos lembrar que Deus está no controle de qualquer
situação, por mais que elas venham ser insignificantes para nós. Deus é
soberano em todas a coisas e nada forje do seu controle.
Coragem
para anunciar o Evangelho
Agora, Senhor, olha para as suas ameaças
e concede aos teus servos que anunciem com toda intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão
para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo
Jesus (At 4.29,30).
A igreja não se intimidou com as
perseguições, mas pediu a Deus coragem para anunciar um Evangelho de poder. Sobre
isso, Matthew Henry comenta: “Nas épocas ameaçadoras, nosso interesse não deve
ser tanto evitar os problemas como poder continuar adiante com júbilo e valor
em nossa obra e dever. Eles não oram: ‘Senhor, deixa-nos afastar-nos de nossa
tarefa agora que se tornou perigosa’, senão: ‘Senhor, dá-nos tua graça para
seguir adiante com constância em nossa obra, e não temer o rosto do homem’.
Aqueles que desejam ajuda e exortação divinas, podem depender de que as têm, e
devem sair e seguir avançando no poder do Senhor”[4].
Quando eles pediram “enquanto estendes a mão
para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo
Jesus”, estavam colocando em prática um trecho da oração modelo do Pai nosso:
“Venha o teu Reino” (Mt 6.10). Igualmente, em nossas orações devemos pedir a
Deus coragem para falar do Evangelho, muitas das vezes não falamos porque não
possuímos essa intrepidez. Temos que pedir que o seu reino venha com poder,
para que vidas sejam salvas. Sobre isso, o Breve Catecismo de Westminster na
pergunta de 102 diz:
“Venha o Teu reino,” pedimos que o reino de Satanás seja destruído e que o reino da graça seja adiantado; que nós e os outros a ele sejamos guiados e nele guardados, e que cedo venha o reino da glória”[5].
O efeito da
oração
Tendo eles
orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito
Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus (At 4.31).
Depois dessa
oração, o Senhor respondeu com o derramamento do seu poder. Segundo Bruce, a
experiência do V. 31 não foi mais um “batismo do Espírito”, mas uma
manifestação renovada do seu poder entre os crentes totalmente entregues à
vontade de Deus. A oração foi respondida, como se nota aqui e nos trechos
seguintes[6].
O que eles precisavam para anunciar o Evangelho, foi literalmente atendido, o
lugar onde eles estavam orando moveu-se. Com isso, ficaram cheios do Espirito
Santo e de coragem para falar da palavra de Deus.
Semelhantemente,
precisamos orar mais para o Evangelho de Cristo Jesus seja anunciado.
Atualmente, muitas igrejas estão vivendo apenas entre quatros paredes, não vem
se preocupando levar seus membros a levarem Evangelho fora das quatros paredes.
É notório um investimento alto na
formação de novos obreiros e pouco em obras missionárias. Pouco é ensinado a
trabalhar evangelismos nos bairros, escolas, trabalhos, faculdades e etc. Para
resolver essa situação, temos que voltar a oração, ela levou a igreja primitiva
a pregar corajosamente o Evangelho.
Conclusão
Diante do que
analisamos até aqui, a oração é essencial para termos uma vida cristã
fundamentada. Assim como não existe Evangelho sem cruz, não existe vida cristã
sem a oração. A oração movimenta o cristão, a prova disso está na oração da
igreja primitiva, depois que oraram a Deus se movimentara para divulgar o
Evangelho. Sem a oração, jamais teremos uma vida cheia do Espírito Santo, não
teremos coragem de falar de Jesus para as pessoas.
Que possamos
seguir a estrutura da oração da igreja primitiva para termos uma vida cristã
avivada. Valorizemos uma vida de comunhão com Deus, o nosso Deus têm várias formas
de falar como seu povo, nós temos apenas uma, a oração. Você tem separado tempo
para falar com Deus? lembre-se, a sua vida cristã depende disso!
[1]
John Piper – Dicas para orar a palavra / Disiring God
[2]
Joel Beeke – Teologia Puritana
[3] Bíblia
de Estudo de Genebra
[4] Comentário
Bíblico de Matthew Henry
[5]
Breve Catecismo de Westminster
[6] Comentário
Bíblico NVI Antigo e Novo Testamento de F.F Bruce
Nenhum comentário:
Postar um comentário