A vida
cristã é comparada diante das Escrituras Sangradas, como um progresso
espiritual. Paulo escrevendo aos filipenses disse: Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se
poderei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja
alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão
adiante, prossigo para o alvo pelo prémio da
vocação celestial de Deus em Cristo Jesus (Fp 3:12 -14; grifo do autor).
Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é
certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra (Os 6:3; grifo do autor).
Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da
eternidade (2Pe 3:18; grifo do autor).
Existem outros textos nas Escrituras sobre o
assunto, porém esses três são suficientes. Podemos entender por meio dessas
passagens bíblicas, que a vida cristã está em continuo movimento, ela não é uma
vida parada, jogada ao enfado do comodismo. Pelo contrário, a vida cristã não
se conforma em viver uma vida vazia, sem propósitos, mas em sempre querer algo
a mais de Deus. Para Calvino, a palavra conversão não significava apenas o ato
inicial de abraçar a fé, mas também renovação e crescimento diários em
seguir a Cristo.
Se alguém não tem o desejo de crescer diariamente na
sua vida cristã, é sinal que tal pessoa parou quanto ao progresso espiritual.
Geralmente, quando alguém deixa de avançar nas coisas espirituais, é porque ela
rejeitou os meios de graças, como ensinavam os puritanos, e os meios são:
oração, estudo da Bíblia e os sacramentos (a Ceia). Não podemos rejeitar esses
meios, eles nos alimentam na caminhada rumo a eternidade, rejeitá-los, é provar
que a eternidade não tem valor algum.
Objetivo desse texto é nos ajudar quanto ao
progresso espiritual, por isso, três passos importantes precisam ser praticados
para alcançá-lo, esses são:
1. Investimento
Para
ter um investimento é necessário dispor de tempo, dedicação e interesse. Caso
contrário, não haverá um progresso quanto a vida cristã.
Tempo.
Sobre o tempo as escrituras nos dizem: Remindo o tempo; porquanto os
dias são maus
(Ef 5:16).
Em outras traduções, fala sobre “aproveitarmos ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus”. Todo aquele que quer crescer na
graça, precisa investir no seu tempo. A cada dia que passa a maldade cresce no
mundo, e mais perto da morte nos tornamos. Os puritanos ensinavam que o
desfrutar da graça nessa vida é passageira, por isso que não podemos perder
tempo com coisas fúteis. Portanto, saiba como separar suas obrigações e não deixe
as coisas de Deus de lado, lembrando o
argumento que você usa de não ter tempo é uma desculpa para você mesmo e não
para Deus; porque Ele diz em sua palavra que “há tempo para todo propósito
debaixo do céu” (Ec 3:1).
Dedicação. Precisamos nos dedicar no nosso crescimento
espiritual, se quisermos realmente uma vida espiritual estável. Nosso maior
exemplo nisso é o próprio Cristo, nEle encontramos um exemplo de oração,
leitura das Escrituras e obediência a Deus (Lc 2:40 - 48). Os Evangelhos nos
mostram que Jesus nunca teve uma espiritualidade relaxada, Ele sempre estava em
progressão nas coisas divinas. Os apóstolos aprenderam isso de seu Mestre,
temos alguns exemplos, como o de Pedro, mostrado no início, sobre crescer na
graça e no conhecimento; Paulo, quando fala sobre sermos fervoroso no espírito,
servindo ao Senhor (Rm 12:11) e outros.
Olhando para a história da igreja, temos vários
homens de Deus que são um exemplo nessa área de dedicação, tanto na vida
pessoal como na obra de Deus. Podemos citar nomes como o de João Calvino,
Guilherme Farel, Martinho Lutero, John Wesley, Charles Spurgeon, Jonathan
Edwards e outros; todos são exemplos de servos de Deus que seguiam a Cristo.
O exemplo de Cristo e desses outros homens de Deus,
deve nos inspirar a viver uma vida piedosa. O propósito de Deus ao nos criar,
foi glorificar o seu Santo nome.
Interesse. O fato de não crescermos espiritualmente, muitas
vezes é resultado de não termos interesse pela espiritualidade cristã. Deus
espera que seus filhos demonstrem interesse pela sua pessoa. Jesus ensinando no
sermão do monte disse: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos (Mt 5:6). Jesus descreve que bem-aventurado são aqueles que
se “interessam pela progressão espiritual”. Encontramos Davi demonstrando isto pela
presença de Deus: Como o cervo brama pelas
correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e
de noite, porquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus? (Sl 42:1-3). Que assim seja o desejo do nosso coração
pela presença divina.
2.
Examinar se estamos na fé
Paulo escrevendo a igreja de Corinto diz: Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados (2Co 13:5; grifo do autor). Paulo fala para a igreja de Corinto se autoanalisar, para averiguar se de alguma forma eles estavam na fé. Calvino fala sobre examinarmos a fé:
Paulo escrevendo a igreja de Corinto diz: Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados (2Co 13:5; grifo do autor). Paulo fala para a igreja de Corinto se autoanalisar, para averiguar se de alguma forma eles estavam na fé. Calvino fala sobre examinarmos a fé:
“Aprendamos a examinar-nos e a averiguar se aquelas marcas interiores pelas quais Deus distingue seus filhos dos estranhos nos pertencem, a saber, a raiz viva da piedade e da fé”. “No ínterim, os fiéis são ensinados a se examinarem com solicitude e humildade, para que a segurança carnal não se insinue, no lugar da certeza de fé”.
Para saber se estamos progredindo na fé, devemos
provar a nós mesmos quanto a isto, e de qual forma? A primeira coisa a se fazer,
é termos um panorama da nossa vida e nos fazermos perguntas, como: será que
estou buscando a Deus mais hoje do que antes? ou eu buscava a Deus mais no
passado? Perguntas como essas, nos ajudam a refletir em que tipo de
cristianismo estamos vivendo.
A segunda
pergunta a fazer, é se estamos
no primeiro amor. Quando não estamos mais vivendo esse amor, as escrituras nos
dão diretrizes para recuperarmos ele:
Tenho porém contra ti, que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres (Ap 2:4; grifo do autor).
Cristo não estava satisfeito com o tipo de amor que
a igreja de Éfeso estava oferecendo, por isso Ele disse: Tenho, porém, contra ti, que deixaste o teu primeiro
amor. Se Jesus não estava
satisfeito com o amor dessa igreja, será que Jesus está satisfeito com o tipo
de amor que você dá a Ele? Se não, saiba que Ele tem algo contra você.
O texto aponta três formas de recuperarmos o amor
perdido. Primeiro: “lembra-te donde caíste”. Tenho que averiguar qual pecado
causou esse esfriamento. Segundo: “arrepende-te”. Depois de averiguar, tenho
que me prostrar ao pé da cruz e pedir perdão pelos pecados cometidos. Terceiro:
“praticar as primeiras obras”. Após pedir perdão de Cristo, devo praticar as
primeiras obras que o pecado me privou.
3.
Jejum
O jejum hoje é algo que muitos não dão valor. E
geralmente isso acontece quando as pessoas não possuem conhecimento sobre o
assunto ou quando não há interesse. Mas quando olhamos para o Antigo e o Novo
Testamento, encontramos pessoas praticando o Jejum.
No Antigo Testamento, encontramos o profeta Joel
convidando a nação a se humilhar diante de seus pecados, por meio do jejum (Jl
1:14); Esdras jejua por proteção (Ed 8:21); Davi afligia sua alma com jejum (Sl
35:13). No Novo Testamento, temos Cristo ensinando sobre isto no sermão do monte.
E o ensino de Jesus, não era como o dos fariseus, que jejuavam para obter status,
Ele orientava a realização do jejum com discrição, porque assim livraria seus
discípulos do orgulho e os levaria para o caminho da humildade.
O jejum particular está ligado a atos externos e
internos. Os atos externos estão relacionados com a abstenção de alimentos,
seja comida ou água, levando-se em conta as condições de saúde (2Sm 3:35; Ed
10:6; Dn 10:3; Et 4:16; At 9:9). A parte interna, está relacionada a dois fatos
ou aspectos: oração e arrependimento. O arrependimento se compõe em duas
partes: primeiro, profunda tristeza
pelos pecados passados. Segundo,
correção da vida com vista no futuro. Já a oração está fundamentada em realizar
fervorosos pedidos por coisas boas e suplicar a Deus que afaste de nós todo o
mal.
O jejum muitas vezes é praticado de forma errada, as
pessoas quererem barganhar com Deus. O jejum serve para mudar o cristão e não a
Deus. Esse é um período onde o cristão se humilha diante do Senhor,
reconhecendo seus pecados, mortifica os desejos carnais, procura renovo
espiritual. O jejum serve para abrir nosso apetite para as coisas espirituais. Assim
como um remédio que é ingerido, e aumenta o nosso apetite para que fiquemos
saudáveis e fortes, o mesmo devemos fazer com o jejum, para que assim venhamos
crescer na graça e no conhecimento.
Se você sente que sua vida cristã está acomoda, fria
e precisando de renovo espiritual, pratique o jejum, sua vida irá mudar
completamente, mas sempre tenha em mente, que tudo isso deve causar uma mudança
que leve você a se parecer mais com Cristo Jesus.
Conclusão
Os princípios que podemos colocar em prática para
obter um progresso espiritual são: investimento, que requer interesse, tempo e
dedicação. Analisarmos se estamos na fé e na pessoa de Cristo. E por último, o
jejum, que deve ser usado como um meio para o crescimento e assemelhaçao da
imagem do nosso Senhor Jesus Cristo.
Lembrando também, que não existe fé sem obras, se
realmente fui alcançado pelos méritos de Cristo na cruz, automaticamente essa
fé vai me levar as boas obras. Como disse Paulo: Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas
(Ef
2:10).
Sidney
Muniz
Notas:
Teologia
Puritana de Joel Beeke
A prática
da Piedade de Lewys Bayly
Os
puritanos e a Conversão de Samuel Bolton, Nathaniel Vincent e Thomas Watson
Espiritualidade
Reformada de Joel Beeke
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